sexta-feira, 15 de março de 2013

Releitura de poemas de Drummond, em comemoração ao Dia Nacional da Poesia, orientada pelo professor Adilson Severo, com os alunos das turmas 1001 e 1002 - 14 de março

Original:

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.


Devagar... as janelas olham.

 
Eta vida besta, meu Deus. 

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Releituras: 

Castelos entre coqueiros
travestis entre navalhas
plantações, tristeza, chorar.

Muitos homens vão devagar.
Uma mulher vai devagar.
Uma manada de camelos vai devagar.

Rapidamente... As "travas" olham.

Caralho, vida maldita, que diabo!

(Thiago S. - Turma 1001)
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Casas entre o céu
homens entre estrelas
pomar entre jardim.

Uma criança vai devagar.
Um gato vai devagar.
Um peixe vai devagar.

Devagar... olho o céu.
Eta vida besta, meu Deus. 

(Bruna Santos - Turma 1001)
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Casas entre barreiras
mulheres entre bananeiras
sonhar, amar, cantar.

Um homem vai viajar.
Um cachorro vai flutuar.
Um burro vai caminhar.

Devagar... as janelas observam.

Eta vida maluca, meu Deus.

(Igor Armando - Turma 1001)
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Casas entre favelas
mulheres entre becos
pomar, amor, andar.

Um homem vai devagar.
Um gato vai devagar.
Um cavalo vai devagar.

Devagar... as luzes olham.

Eta vida mais ou menos, meu Deus.

(Gabriel Cabral - Turma 1001)
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Casas entre barracas
são mulheres cabeludas
na pedra do lixão.

Um veado vai correr.
Um leopardo vai mais lento.
Uma tartaruga vai mais rápido.

Uma porta abre outra porta.
E uma vida não dá para nada.

(Anderson Faria Santos - Turma 1001)
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Casas entre muros
Pago minha conta com juros
Meu cachorro está comendo.

Um homem vai correndo.
Um cachorro vai correndo.
Um burro vai correndo.

Correndo... chego rápido.

Eta vida besta, meu Deus. 

(Bruna Aparecida - Turma 1002)
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Casas entre laranjeiras
mulheres entre homens
pomar que cantar.

Um homem vai rápido.
Um cachorro vai rápido.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas falam.

Eta vida besta, meu Deus.

(Amanda Maria - Turma 1002)
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Casas pequenas entre bananeiras
mulheres e crianças entre 
o pé de laranjeira.

O sol do pomar
vem me amar para
juntos podermos cantar.

(Aline - Turma 1002)
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Original:

Quadrilha
 
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
  
(Carlos Drummond de Andrade)
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Releituras:

Jonathan amava Katiane que amava Rogério
que amava Amanda que amava Erculano que amava Bruna
que amava João que amava Aline
que não amava ninguém.
Jonathan foi para os Estados Unidos, Katiane para o convento,
Rogério suicidou-se, Amanda virou cozinheira,
Erculano virou jogador de futebol e Aline casou-se com Josafá Fernandes
que não tinha entrado na história.

(João Victor - Turma 1002)
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João adorava Teresa que odiava Raimundo
que sentia raiva de Maria que gostava de Joaquim
que chorava por Lili que odiava a todos.
João foi para o Espírito Santo, Teresa para o tribunal,
Raimundo pulou de alegria, Maria ficou com o primo dela,
Joaquim enfartou, Lili virou "piriguete"
e encontrou o J. Pinto Fernandes
que não tinha nada a ver com a história.
(Vinícius Rodrigues - Turma 1001)
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João amava Teresa que odiava Raimundo
que achava Maria feia que odiava Joaquim que amava Lili
que não conhecia ninguém.
João foi para a África do Sul, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de AIDS, Maria virou moradora de rua,
Joaquim morreu de tédio e Lili casou com um cafetão
que não apareceu na história.

(Carlos Henrique - Turma 1001)
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Maurício odiava Cristina que odiava Reinaldo
que amava Carla que não suporta Bruno que não gosta da Tatá
que não gostava de ninguém.
Maurício foi para a Espanha, Cristina para a Igreja,
Reinando sobreviveu a um desastre, Carla ficou avó,
Bruno se matou e Tatá se divorciou de Luiz Pinto Fernandes,
que entrou na história.

(Juliana Castro Fernandes - Turma 1001)
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João odiava Teresa que odiava Raimundo
que odiava Maria que odiava
Joaquim que odiava Lili
que não amava ninguém.
João foi paraa França, Teresa para o Brasil,
Raimundo morreu de desgaste, Maria ficou
para a madrinha,
Joaquim suicidou-se e Lili separou-se de J. Pinto Fernandes 
que tentou entrar na história.

(Pedro Benício da Costa - Turma 1001)
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Carlos amava Bruna que ama Vinicius que amava Rafaela
que amava Pedro que amava Tays
que não amava ninguém.
Carlos foi para os Estados Unidos, Bruna para o convento,
Vinicius morreu de desastre, Rafaela fiocu para a tia.
Pedro suicidou-se e Tays casou com J. Pedro Silva
que não tinha entrado na história.

(Sem Nome - Turma 1001)
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Renan amava Roberta que amava Gabriel
que amava Carol que amava Vitor que amava Hellen
que não amava ninguém.
Renan foi para Portugal, Roberta para a Argentina,
Gabriel foi para São Paulo, Carol morreu de desastre,
Vitor suicidou-se e Hellen casou-se com J. Pinto Fernandes
que criou um filho com Hellen.

( Wandrey da Silva - Turma 1001)
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 Gustavo amava Thamires que amava Eduardo
que amava Larissa que amava Rodrigo que
Amava Andresa que não amava ninguém.
Gustavo foi para o Rio de Janeiro, Thamires viajou para a África,
Eduardo ficou doente, Larissa ficou triste, Rodrigo morreu de desastre
e Andresa casou com João 
que não tinha entrado na história.

(Eduardo Fernando - Turma 1001)
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João amava Nathália que amava Eduardo que amava Eduarda
que amava Joaquim que amava Larissa
que não amava ninguém.
João foi para o Rio de Janeiro, Nathália para o convento,
Eduardo ficou pinel, Eduarda ficou rica,
Joaquim se enforcou e Larissa ficou viúva de Pedro Henrique
que não tinha entrado na história.

(João Victor - Turma 1001) 
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Original:

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade)
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Releituras:

No início do caminho tinha uma ponte
tinha uma ponte no início do caminho
tinha uma ponte
no início do caminho tinha uma ponte.

Nunca me esquecerei desse fato
na vida de minhas retinas tão cansadas
Nunca me esquecerei que no início do caminho
tinha uma ponte
tinha uma ponte no início do caminho
no início do caminho tinha uma ponte.

(Rafaela Lopes - Turma 1001)

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 No meio do céu tinha um anjo
tinha uma anjo meio do céu
tinha um anjo
no meio do céu tinha um anjo

Nunca me esquecerei desse anjo
Nos meus sonhos tão bonitos
nunca me esquecerei desse anjo no meio do céu
tinha um anjo
tinha um anjo no meio do céu
no meio do céu tinha um anjo.

(Sara Ribeiro - Turma 1001)
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No meio da minha vida tinha um mosquito
tinha um mosquito
bem no meio da minha vida.

Nunca vou me esquecer desse mosquito
que tanto me irritou
nunca me esquecerei desse inseto
insuportável no meio da minha vida
tinha uma praga no meio da minha vida
no meio da minha vida tinha uma praga.

(Katiane de Souza - Turma 1002)
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Original:

Confidência do Itabirano
 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói! 

(Carlos Drummond de Andrade)
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Releituras:

Alguns anos vivi em Nova Iguaçu.
Principalmente nasci em Nova Iguaçu.
Por isso sou feliz, alegre: de ferro.
Cinquenta por cento de ferro nas ruas.
Quarenta por cento de ferro na confiança.
E esse alheamento do que na vida é tão fácil, tudo tem seu preço.

A vontade de te amar e tanta que atrapalha em certos momentos no trabalho,
vem de Nova Iguaçu, de suas manhãs claras, sem crianças e sem horizontes.
E o hábito de alegrias, que tanto me diverte
É doce herança Nova Iguaçuana.

De Nova Iguaçu prendas diversas que ora te dou:
Este São Pedro do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido na cama do quarto dos fundos;
Esta alegria, este cabelo grande.

Tive prata, tive gado, tive hortas.
Hoje sou aposentado.
Nova Iguaçu é apenas uma fotografia em branco e preto na parede da sala.
Mas como sofro!

(Gabriel Silva - Turma 1001)
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 Alguns anos vivi em Queimados.
Sou natural de Queimados.
Por isso, tenho alegria confiante: de raça.
Noventa por cento de raça nas estradas.
Oitenta por cento de raça nas histórias.

A vontade do coração que me enfeitiça, domina-me.
Vem de Queimados, de suas madrugadas frias, sem moças e sem destino.
É o hábito de querer que tanto me alegra.
É a doce riqueza de Queimados.

De Queimados trouxe talentos diversos que tanto aprecio.
Estes são Roberto Velho Santana.
Esta grama verde, que crescia ao redor da fazenda formando vistosos pastos.
Esta beleza, este lugar entristecedor.

Tive casa, tive carro, tive o mundo.
Hoje, sou ajudante de pedreiro.
Queimados é apenas uma lembrança na imaginação.
Simples assim!

(Rogério dos Santos - Turma 1002) 
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Um comentário:

  1. Belíssimo trabalho de alunos, alunas e professor! Drummond ficaria orgulhoso dessas criativas e lindas releituras! Nas palavras dele: "Não rimarei a palavra sono / com a incorrespondente palavra outono. / Rimarei com a palavra carne / ou qualquer outra, que todas me convém. / As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, / no c'wu livre por vezes um desenho, / são puras, largas, autênticas, indevassáveis". CDA, A Rosa do Povo.

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